quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Minha vida - Uma história


Por: Eglitz

Se acreditarmos em um mundo invisível, lindo, com muitos anjos ao qual chamamos de céu; automaticamente, estaremos dando margem a nossa mente acreditar em um outro mundo também invisível, mas com seres horripilantes e maus que vivem em um lugar chamado inferno.

Mas não necessariamente tem que ser assim. Pelo menos, não era assim comigo até os meus seis anos. Até então, na minha forma inocente de ver as coisas, eu acreditava que existia somente o céu, onde tinha aquele ser justo e bom, ao qual a minha mãe havia me ensinado a rezar.

Íamos a missa todos os domingos por que a Igreja era longe de onde morávamos. Ali o padre ensinava todas as crianças a rezarem e a cantarem hinos de louvor. Hoje, já a bastante tempo daquela época, ainda lembro quando cantávamos: “Mãezinha do céu, eu não sei rezar....”

E ainda lembro de uma oração que a minha mãe me ensinou, que eu pronunciava apenas algumas palavras: “Santo Antônio pequeninho, me coloque em bom caminho..”.

Mas a crença saudável ia desaparecendo, na medida que eu escutava aqui e ali, as prosas e lorotas dos adultos. Fui descobrindo através dos meus ouvidos sempre bem atentos, que não existia somente o céu, mas também um inferno.

Até então, o meu mundo inocente e paradisíaco, havia sido intocável. O meu sono era tranqüilo e nada poderia me trazer medo. Até o momento em que todas as sombras que pairavam sobre as cabeças dos adultos começaram a denegrir o meu céu.

Em um piscar de olhos o mundo infernal das assombrações começou a invadir a minha mente. Fiquei sabendo em uma noite escura, depois de ouvir os gritos de socorro do meu tio, que havia um lobisomem que atacava qualquer um que passasse por ali em determinada lua.

Atrás de nossa casa havia uma caverna a qual diziam que era um portal para um mundo desconhecido. Ao escurecer de determinados dias, descia da caverna uma carroça de bois com sinos no pescoço.Eu nunca vi essa carroça, mas os sinos eu escutava. Muita gente juravam que já a haviam visto.

Mudamos daquele lugar. Meu pai acabou comprando terras em uma outra localidade distante dali. Mas como quase todo o lugar tem a sua história ou sua lenda, esse também tinha. Logo de chegada, fiquei sabendo de alguns moradores antigos do lugar, que algumas pessoas que moraram por ali, haviam visto o próprio demônio em pessoa passar por aquelas estradas de chão batido. Que ele havia percorrido cada palmo daquele lugar, por isso que existiam ali muitas assombrações.

Entre dois riachos distantes mais ou menos uns seiscentos metros um do outro, que cortavam as estradas, diziam que aconteciam coisas incríveis. Caveiras se arrastavam, e impediam qualquer um de passar por ali. E em alguns dias, uma mula sem cabeça que conduzia um rapaz que soltava gritos de pavor, era puxada por uma velha. Qualquer um que ousasse passar por aquela estrada era barrado.

Em seguida ao último riacho, havia uma esquina que formava - por causa de um atalho - um coração. Ali diziam que muitos haviam visto algumas coisas estranhas também. Meus irmãos e meus primos passaram por ali em uma noite, e viram um ser descomunal passar voando por sobre suas cabeças soltando gritos apavorantes.

Em alguns dias quando estava escurecendo, podia-se ver uma mulher que chorava, com um pano na cabeça cruzar naquela esquina para dentro de um mato em umas das margens da estrada.

Em frente as nossas terras tinha um campo imenso, onde havia resquícios de moradias no passado. Velhas taperas com arvoredos. Era fácil saber quando se tinha encontrado um lugar em que havia morado alguém. Era comum as pessoas plantarem laranjeiras ao redor de suas casas, e quando encontravam-se laranjais, era certo que ali havia sido uma moradia no passado.

Mas o que eu quero frisar é como uma mente inocente sem maldade alguma, pode ser corrompida, contaminada, pelos medos propositadamente impostos, e histórias que vão sendo contadas por adultos que não têm um pingo de consciência do grande mal que
ocasionam na mente de uma criança.